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domingo, 13 de agosto de 2017

CACHOEIRA (DE BEVERLY HILLS PARA SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO- BA)




O vapor de cachoeira
Não navega mais pro mar.
Levanta a corda, bate o búzio,
Nós queremos navegar.
Ai, ai, ai, nós queremos navegar.

E fui, no ônibus, como um barco, meio rodando e navegando, queria pegar no recôncavo e olhar e dormir num e noutro, sim, no convexo também.
Viajar é entreter-se para mudar o cenário e assim para entrevistar meus olhos com o mundo, com as pessoas e meu nariz, boca também, Viagem é poemar vividamente, foi o caso de ir a Cachoeira-BA. Já tinha um tempo que eu focava isso e quis realizar, não era só ir à Cachoeira da Bahia, era a ideia minha que inventei, seria mais minha e me sentiria à vontade dentro de você, conduzindo seu corpo e ás vezes se sobrepondo. Pena que não tem mais o vapor... seria demais.
Lá deitei-me sobre o Brasil no acolchoado de sua aura, brisa, calor cheiro e afago do seu povo. Que tem água no meio da cidade, e tem verdes, cachorros andando pelas ruas soltos, uns mancando outros normais, e as pessoas o mesmo. Andando sem saber pra onde, olhando água como se olhasse o mar ou a pedra, sei lá, gostei.

Quatro rodas sim
Há uma diferença entre viagem de carro, avião e ônibus, especialmente para o recôncavo baiano, onde as opções são o carro ou ônibus, partindo de Salvador. Além de conhecer a brasilidade da região, de beleza estrondosa e não sei se bom ou mal, mas ainda se conhece pouco pelo turismo. Fui no início de junho de 2017 à Cachoeira-BA.
Viajar-sair é o que dar para olhar mais com atenção.
A viagem propicia uma vista bacana: do campo pela janela do ônibus, projeta uma imagem telúrica que me chama para a infância e meu imaginário rural. Vejo paisagens, personagens de uma cor brasileira inacreditável. Curto cheiros, estética do vestir, a fala, afora músicas, comidas etc. Isto tudo difere do Sudeste, São Paulo, onde hoje moro, aliás me divido.
O ônibus partindo de Salvador, vai parando em cidades do percurso, onde se tem uma vista parcial das mesmas, mas colhe-se algo dos passageiros que embarcam e desembarcam num entra-e-sai constante — o que faz a viagem ter um tempo de percurso mais longo que o carro, mas o aprendizado é demais.
A chegada à Cachoeira nos surpreende pela simplicidade, cheiro da umidade, vinda do rio e das brumas marinhas. O rio Paraguaçu é o divisor entre duas cidades: Cachoeira e São Feliz, que tem uma ponte em ferro. Essa ponte, Imperial D. Pedro II que liga a cidade a S. Felix, foi construída pelo imperador 1865, não tinha os Magalhães ainda. (rss)

Um rio e várias histórias

A cidade foi imponente entre séc. XVIII e XIX, face o escoadouro de produtos do recôncavo baiano com destaque absoluto em todo recôncavo.
O casario barroco é de uma imponência como uma cidade dos barões do cacau, cana, tabaco, fumo etc; muitos bem recuperados, outros não.
A cidade é patrimônio nacional, mas carece de cuidado, mesmo assim tem sua imponência e ergue-se diante do rio Paraguaçu com altivez. São igrejas, paço municipal, e pequenos-grandes casarios como o Convento, o Passo Municipal, o Centro Cultural da Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, com evento em agosto que atrai um fluxo intenso de turistas. É algo felliniano, mas é brasileiro negro e é lindíssimo. Há muito mais: Cachoeira é a micro gênese dos cultos afro-brasileiros, lá encontram-se mais de 50 terreiros.
Cachoeira tem seus personagens fulgurantes desde Caramuru, Augusto Teixeira de Freitas, Ana Nery, Dona Dalva Damiana, charuteira da fábrica Suerdieck (do grupo de samba de roda da Suerdieck, também é integrante da irmandade da Senhora da Boa Morte), Manoel Traquilino Bastos — maestro e instrumentista — e Edson Simões Filho criador do Jornal A tarde, entre outros.
As pousadas são parcas, mas quero destacar a Identidade Brasil, localizada na praça 25 de junho, onde se tem vista para um conjunto arquitetônico em boa conservação. Esta pousada que nos recebeu tem uma poeta, poeta de cabeça, não do verso, e sim da estética dos objetos que lhe cerca e conserva, afora o trato do casario, maravilhosa mulher que tornou-se cachoeirense mesmo sendo paulistana. Apaixonou-se pela cidade e sua pousada é de um feitiço que agrega toda uma cultura regional, especialmente nas suítes e quartos e parte comuns da casa, afora um padrão gourmet requintado mas sem petulâncias das bobagens gourmecidas; é de se visitar. Afora isso, ela, a proprietária, faz passeios com seus hóspedes pelas cidades e indica passeios de barcos pelo Paraguaçu imenso.

A feira é festa: compra-se para comer e beber, mas tem mais para ver

A feira de Cachoeira – aos sábados e seu mercado são outro atrativo espetaculoso, sim espetaculoso mesmo, tem de tudo e mais gente que fala e diz sua história e canta e ri, vendendo de frutas verduras, carnes, peixes, alumínio, panelas, comidas — pratos feitos —, e mais pamonha, canjica, amendoim cozido, queijos, licores, roupas; é um espetáculo a ser vivido. Além disto os pregões de chamados para as compras, afora os tratamentos de: bom dia meu compadre, meu patrão... Ai, Rio, quem sou eu para ser patrão!
A Praça Central, vestida de bandeirinhas coloridas, já de plásticos, para o São João é outro fato cenográfico, compondo com o rio bares e botecos a margem um belo cenário; as bandeiras ao reverenciar o vento produzem um marulho como se fora do mar, é vasto, lindo e tem acarajé, cocada da Elizete e boa prosa, maniçoba agora no escondidinho (prato).
Destaque-se no casario pequenas lojas, farmácias, roupas com sobrenomes de famílias como Pereira. Tem de um tudo, mas os licores são demais, encontrei um inusitado: Jambo, amendoim e graviola, sem se falar no Jenipapo e café. São famosos seus licores.

Adeus, meu Santo Amaro
Eu dessa terra vou me ausentar 
Eu vou para Bahia 
Eu vou viver, eu vou morar 

Bom, mas vamos a volta da viagem: no mesmo trajeto passamos na ida por Santo Amaro da Purificação, de dona Quino e Betânia. Paramos na rodoviária, que decepção! Fazemos um imaginário pela boca da canção em Betânia, mas a coisa é outra, mas tem lá seus encantos escondidos.
O que nos chamou a atenção foi o vendedor de água que oferecia água mineral, que como tantos outros adentram ao ônibus para vender comida etc...
— Água mineral geladinha diretamente de Beverly Hills para Santo Amaro, tome guarde de lembrança, e coma milho cozido assado para tirar o amargo dos americanos da boca, mas água é boa!
Chamei o vendedor e perguntei o óbvio: aqui é a terra de Betânia? Ele disse sim, vulga Dona Maria, e e sou fã dela, e ele disse: eu não por acaso? Adoro Betânia, Mabel, Rodrigo, Caetano; está bom, prossegui de volta, ficou a imagem de cachoeira e a água de Beverly Hills, como lembrança de Santo Amaro.

Adeus, meu Santo Amaro
Eu dessa terra vou me ausentar 
Eu vou para Bahia 
Eu vou viver, eu vou morar 

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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Trabalho literário ..... valorizado...M. Nocelli...capturas do Face

Flagro Marcelo Nocelli -via Face, e faço minhas  as palavras, dele, pois a literatura está longe de ser algo de rendimentos, este tempo findou-se. Como exemplo  grandes poetas do brasil como: Maria do Carmo Barreto Campelo , Daniel Lima, Carlos Nejar, Abgar Renault  já esquecidos, ou quase. Na prosa são inúmeros, não dá para enumerar, destaco o esquecimento à José Lins do Rego, João Antonio, J,J.Veiga, Cornélio Pena etc. Fora do  Brasil, é o mesmo, temos: Roa Bastos, um grande escritor Paraguaio que está morrendo no esquecimento e ninguém o conhece ou lê, caso idêntico de Felisberto Hernandez, do Uruguai. Conheço grandes escritores que desistiram, calaram-se e foram para outros lados, face a descrença. Será o caso de Raduan, hein? Há, parece, mais escritores que leitores, mais ela , a literatura , insiste, e assim deve ser. O tempo, os leitores que  degustam dirão  no processo histórico, quem sabe? 
 





Marcelo Nocelli





Amigos escritores (em especial, aqueles que acham que não têm o seu trabalho literário devidamente valorizado) não quero desanimá-los, mas ontem, no programa do Bial, Mia Couto, escritor renomado e conhecido mundialmente, autor de mais de 20 livros, um dos expoentes da literatura em língua portuguesa atual, disse que só consegue escrever à noite, porque de dia tem que trabalhar como biólogo (sua profissão de formação) numa equipe de ambientalistas que analisam os impactos ambientais para uma empresa petrolífera privada. 

Enfim, não se ganha dinheiro com a boa literatura, se ganha outras coisas, para alguns poucos: bem valiosas, por sinal. 

Para os que querem ganhar dinheiro, um caminho é tentar seguir pela literatura de qualidade duvidosa, mesmo assim, não é fácil. O mercado financeiro e a inteligência artificial, por exemplo, são caminhos que estão sempre alta, e mais promissores, financeiramente falando...



Marcelo Nocelli, nasceu em 1973, em São Paulo, cidade onde mora. É formado em Letras. Como escritor, estreou em 2007 com o romance “O Espúrio”. Em 2009 publicou o romance policial “O Corifeu Assassino” (traduzido para o italiano). Tem diversos contos e crônicas publicadas em revistas e sites especializados. Há cinco anos é cronista da Revista ZN.Em 2008 recebeu o prêmio Lima Barreto – Novos talentos da Literatura.
https://blogdareformatorio.wordpress.com/marcelo-nocelli/

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Zabé da Loca morreu na manhã deste sábado (5),




Zabé da Loca, Izabel Marques da Silva, foi um raridade, uma destemida que incorporou a música a sua vida, através do instrumento o pífano, por prazer, por vida.Nasceu em Buíque, Pe, 1924,mudando-se para a Paraíba, Monteiro, onde morou por 25 anos embaixo de uma pedra enorme, uma formação calcária comum no sertão paraibano, Serra do Tungão-PB mudando só em 2003 para um assentamento de terra -Sta Catarina, em Monteiro-PB.Teve dois filhos, viveu da lavoura, na enxada com  intempéries, mas nunca abandonou  o pífano.Tornou-se mais conhecida no país nos anos 80/90 e daí  veio a ser a  figura destacada na música brasileira.Faleceu a semana passada aos 92 anos.



por http://bit.ly/2vGbhNF

A artista Zabé da Loca morreu na manhã deste sábado (5), na comunidade Santa Catarina, zona rural de Monteiro, no Cariri da Paraíba. As primeira informações repassadas pela família são de que Zabé estava com 93 anos de idade e morreu em casa de morte natural. Nos últimos anos ela lutava contra a doença de Alzheimer.
Ainda segundo a família, o corpo da pifeira foi velado em casa durante toda a manhã deste sábado e à tarde o velório aconteceu no Memorial Zabé da Loca, no sítio Tungão, fazenda Santa Catarina.
Haverá velório também no domingo (6) no Centro Cultural de Monteiro, às 7h. O sepultamento será às 10h, no cemitério municipal de Monteiro.
A Prefeitura de Monteiro decretou luto oficial de três dias, de sábado até a segunda-feira (7), de acordo com a assessoria de comunicação.

JULIA LOPES DE ALMEIDA..a história tentou apagar




Paulo Vasconcelos
Aprendi a gostar de literatura já nos anos de 1950, na Paraíba, Campina Grande, em  alguns  livros que estavam próximos a mim, mas foi um livro didático, uma espécie de Antologia do Conto, indicado pela professora de Português, Marli Motta , no ginásio, num colegio público, diga-se a verdade, em que encontrei Julia Lopes de Almeida . O conto era A Caolha.
Gostava de sua clareza, sua escrita simples e direta , sua eleição aos fatos do cotidiano , a sua época. O tempo passou e por décadas ela foi escondida. Michele Asmar Fanini desvenda em seu livro fatos interessantes sobre Júlia e encontrei esta matéria no jornal Digital da USP, vejam:

Por Jornal da Usp
Livro recém-lançado resgata obra da escritora mais publicada da Primeira República (1889-1930) e a única mulher a fazer parte do grupo de intelectuais que fundaria a Academia Brasileira de Letras (ABL). Em documento extraoficial, encontrado por pesquisa da USP, consta o registro do nome de Júlia Lopes de Almeida entre os cogitados que comporiam a lista de fundadores. O livro A (in)visibilidade de um legado – Seleta de textos dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida mostra a importância da escritora e a redime de uma sociedade machista, cujas barreiras de gênero a relegaram ao ostracismo institucional.
O livro é de autoria de Michele Asmar Fanini e foi lançado em março de 2017 pela Editora Intermeios e coedição da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O trabalho é resultado de uma pesquisa de pós-doutorado feita no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP.
A lista extraoficial onde constava o nome de Júlia foi encontrada por acaso. Em 2005, quando Michele dava início ao seu doutorado, cujo recorte de pesquisa era a investigação dos bastidores de ingresso das mulheres na ABL, se deparou com o documento que tinha sido elaborado por um dos idealizadores da academia, Lúcio de Mendonça. Na lista, apareciam elencados quarenta nomes daqueles que, segundo ele, deveriam figurar como seus membros fundadores. Seguindo o modelo da Academia Francesa, cujos ingressos consistiam em uma prerrogativa masculina, a ABL excluiu o nome de Júlia da listagem final. Por sua vez, o marido da escritora, Filinto de Almeida, que também integrava o grupo de idealizadores, se tornou um de seus fundadores.
Leia toda matéria em..http://bit.ly/2v84oC4

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Explicação Para Certos Paradoxos

Explicação Para Certos Paradoxos da História Nacional Contemporânea. ..capturas do face

Braulio Tavares é um artista inquieto, grande e largo, fomos colegas de ginásio em Campina Grande, apesar do tempo ter nos separado ,um para um lado outro ,para outro, acompanho sua trajetória como escritor tradutor, sigo seu face, aqui vai uma dessas capturas, em que pela tradução digamos intersemiótica ele diz mais e mais face o que ora passamos...
CLIQUE NO TÍTULO

terça-feira, 1 de agosto de 2017

.....perguntaram dos rituais Flip 2017 ...captura do Face

PERGUNTARAM

perguntaram dos rituais
a única resposta possível
na cor das horas 
é o poema.
*-L.Chioda-

apud ZUNAi  
http://bit.ly/2u2CKcM


O poeta é um ativista, Leonardo Chioda  é um deles, afora uma escrita fina, ele reinventa, dubla a palavra poemando, tonteando o leitor e diz, diz mais. Assim, como na letra, ele poema pelas ruas como fez em Paraty  num exercício de cidadania, flagro-o no face e passo aqui para vocês, leitores.Paulo Vasconcelos



Quem se rendeu à #Flip2017, sabe que era comum ver escritores de todas as idades vendendo seus livros e plaquettes — quase todos de editoras independentes ou seleções de poemas feitas à mão, em folhas sulfite, impressos em rascunho, em poucas cores.

Quem se rendia às mesas dos bares, pode ter visto o que vi: gente caçoando, ignorando friamente, diminuindo ou mesmo tirando sarro de quem oferecia o trabalho por qualquer quantia que o cliente-leitor julgasse oportuno ao material. Vi esse tipo de recepção a jovens poetas que vivem muito longe de Paraty e chegam lá com o dinheiro contado para comer quando dá tempo. Ouvi reclamações burras de quem sentava com as sacolas da Travessa abarrotadas [de livros que nem vão ler]. Gente que chorou com a imensa Diva Guimarães e gritou #foratemer mas torcia a cara a quem interrompia o gole da cerveja. Caramba.

Claro que ninguém é obrigado a comprar nada. Mas o descaso com quem escreve — só porque a pessoa não tem editora ou porque aborda oferecendo o trabalho em meios simples — chega a ser revoltante. E tão comum ao longo do maior evento literário deste país desgovernado.

Quem escreve é de carne, sonho e osso. Me desculpem, mas quem transita no frio trabalhando, aberto à chacota, ao silêncio e ao 'não' ríspido de quem se acha mais e melhor, é tão importante quanto os convidados do auditório principal. Mais que pensar na fogueira das vaidades, creio na Literatura como o melhor pretexto para conhecer a grandeza dos outros. Assim o incômodo de presenciar o olhar reprovador a quem dá a cara aos tapas da vida, com o mundo inteiro no coração. A quem sangra e continua andando.

Ou estou bem louco ainda — depois de tantas emoções ao lado de gente que eu amo e outras que conheci e passei a amar — ou parece, mesmo, que muitos não estão entendendo nada. Deve ser as duas coisas. Me anima o fato de que alguns muitos, dentre eles escritores, não só contribuíram com esse povo corajoso [e bem bom no que faz], como abraçaram e desejaram boa sorte e boa editora. Nem tudo se perde quando a poesia está envolvida. Mas não me rendo a nenhum conformismo. Quem escreve é de carne, osso e sonho de chegar no fim da festa sem nenhum exemplar na mochila.
A ignorância de alguns resiste. Assim como resiste a literatura independente, que é o esforço de tantos — esse braço estendido nas noites frias entre tantas luzes.

*Leonardo Chioda nasceu em Jaboticabal, interior de São Paulo. 
 Graduado em Letras pela Universidade Estadual Paulista e pela Università degli Studi di Perugia. Sua estreia foi com Tempestardes [Editora Patuá, 2013], premiado pelo ProAC [Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo.Seu mais novo livro, POTNIΛ [Selo Demônio Negro], foi apresentado durante a Flip na Casa Paratodos. Além de ensaios sobre Literatura e Simbologia, tem poemas em diversas revistas virtuais e impressas. Devido à sua densidade e ao rigor com a palavra escrita, Chioda se afirma como uma voz destoante — e, por isso mesmo, necessária — da poesia contemporânea brasileira.

Aí.. Flip 2017- .... divisora de águas....Capturas do Face


Na minha constante pesquisa nas chamadas Redes Sociais, nome que não curto, deparo-me com o jovem escritor-sério e de talento que escreve também no seu Face, no seu post de modo simples; como uma flecha exata, no ponto, Rafael faz um apanhado enxuto do que foi a Flip sem se deter nos intelectualismos que, em geral, se usa para descrever este tipo de evento, passo a palavra ao escritor, que muito admiro. Paulo Vasconcelos




Rafale Gallo*





Dizem que as crises servem para repensar o modo como lidamos com as coisas, para buscarmos novas soluções e ficarmos mais fortes ou sábios. No Brasil, isso quase nunca acontece, porque as crises sempre parecem apontar para um buraco ainda mais fundo e não haver amadurecimento, mas sim sublimação pelo humor e catarse pela violência (não lidamos com nossos traumas). Mas a Flip deste ano foi uma belíssima exceção. 

A curadoria da Joselia Aguiar, as propostas das programações paralelas e as relações entre toda a teia que formou os últimos dias em Paraty mostraram que há, sim, maneiras criativas, saudáveis e afetivas de lidarmos com todo esse imbróglio chamado Brasil. Foi muito falado - e eu não poderia concordar mais - que a educação e a cultura têm que se tornar centrais na formação do país. É até um alívio ouvir esses tipos de sinais, em um contexto em que só se vê a pregação dos mercantilismo mais vis, como se a salvação fosse o dinheiro, os investidores, etc. 

A salvação vem da educação, das oportunidades de igualdade, de se dar importância real à vida das pessoas. Não à toa, a presença mais marcante dessa Flip veio de uma professora, de uma pessoa que não estava lá nos holofotes, mas no público. Era aí que essa Flip - que foi divisora de águas, como muitos falaram - estava mais potente: no rés-do-chão. Com tudo que essa expressão tem de mais bonito.

Ah, e o vídeo da Diva é imperdível. Essa história da lagoa eu ouvia quando era pequeno - também de pessoas da igreja (oh, coincidência!) - e o que ela tem de horrível e absurdo continua em outras "historinhas" até hoje. Acho que qualquer discussão sobre racismo ou aspectos sociais do Brasil deveria passar por esse vídeo, e ele contém tanta coisa, que eu nem saberia por onde começar.
(video aqui já exibido.... (http://bit.ly/2u1fhZa  )

Enfim, que bom que a Flip tomou esse rumo, que bom que podemos vislumbrar esses rumos. Porque reparem em uma das coisas importantes: as falas são duras, refletem sobre a violência, mas elas não são violentas em si. E é nisso que eu também acredito, cada vez mais.


* Rafael Gallo

Escritor paulistano, autor do romance Rebentar (Record, 2015) 
livro vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 
e de Réveillon e outros dias (Record, 2012), 
livro vencedor do Prêmio Sesc de Literatura.
..http://www.rafaelgallo.com.br/