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terça-feira, 8 de julho de 2008

Marcos Prado retrata a lucidez e a loucura em “Estamira”


Marcos Prado retrata a lucidez e a loucura em “Estamira”
27/07/2006
Neusa Barbosa
Já fazia seis anos que o fotógrafo carioca Marcos Prado se dedicava a um projeto de documentar o cotidiano do lixão do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ) quando se deparou com uma senhora contemplando a árida paisagem. Ao pedir para tirar o seu retrato, Prado ainda não fazia idéia de que ela se tornaria a protagonista de seu longa de estréia como diretor, o documentário Estamira, que leva o nome da mulher, sexagenária, que trabalhava no imenso lixão.
Apesar de ser uma pessoa difícil, que os próprios amigos no lixão descreviam como “bruxa de Gramacho”, e de sofrer de distúrbios mentais, a afinidade entre Estamira e o fotógrafo foi imediata. “Ela logo me convidou a sentar ao lado dela, me mostrou seu arroz, seu fogão. Ela cozinhava no lixo. E tinha aquele discurso fantástico. Eu só conseguia pensar: ‘Quem é essa pessoa?’”, conta Marcos, em entrevista exclusiva em São Paulo, no final de julho de 2006.

A figura carismática capaz de longos discursos sobre a vida num vocabulário todo próprio não saía da sua cabeça e Marcos voltou a procurar Estamira. Mas ela não estava no lixão. Tinha sido apedrejada, depois de denunciar um casal que roubava as lonas usadas como abrigo pelos velhinhos que viviam no lixão – uma das muitas violências que sofreu no local, que não tem segurança à noite. Procurando-a em casa, Marcos foi recebido com uma frase sintomática: “Tarda, mas não falha”. Depois, pediu autorização para fazer um filme da vida dela. “Eu já estava envolto na magia do verbo de Estamira”, confessa.

Foram quatro anos desde esse primeiro encontro (em 2000) e a conclusão do filme, que acumulou até agora 25 prêmios, no Brasil e no exterior – como o Grande Prêmio do Festival Internacional de Documentário de Marselha e o de melhor documentário no Festival de Karlovy Vary (República Tcheca), na Mostra Internacional de São Paulo e no Festival do Rio. Nesse período, foi estabelecida uma relação de confiança, que é nítida na maneira como Estamira se expõe para a câmera, revelando seu cotidiano no lixão, sua casa peculiar, repleta de objetos e gatos (tem 50) e sua tensa relação com os três filhos – um dos quais, evangélico, proclamando que o problema dela, na verdade, é estar “tomada pelo demônio”.

O diretor conta que vários terapeutas lhe disseram que o filme acabou sendo uma espécie de terapia involuntária para a mulher. Ele mesmo acredita que do processo resultou algum bem: “Ela deve estar melhor do que estava. Lembrou coisas que devem ser importantes para a reconstrução dela”.

Àqueles que acham que o diretor expôs demais sua personagem, ao mostrá-la em cenas de aberto conflito com o filho e escandalizando seu neto, o diretor rebate: “Refleti muito sobre os limites da ética e da intimidade. Mas pensei que, ao cortar certas cenas, eu iria estar mitificando a Estamira. Ela mesma foi a primeira a ver o filme pronto. E me disse que a decisão de cortar ou não qualquer coisa era mesmo minha. ´É a sua missão´, ela disse. Eu juntei esse quebra-cabeças como quis”.

O diretor acredita que, apesar de mostrar um universo com tantas situações fortes e tristes, seu filme tem uma mensagem positiva. “Apesar de tudo, ela é uma pessoa que se impõe. Apesar das adversidades, ela encara a vida de frente. Ela poderia ter se entregado”, pondera.

Atualmente, Estamira não vai mais ao lixão – que continua existindo, mesmo estando saturado, com riscos ecológicos -, toma remédios, ganhou peso e continua se tratando, por vontade própria. Uma vez por semana, vai sozinha a uma unidade de atendimento psiquiátrico. Lá, o filme despertou a admiração de pelo menos um médico, que se esforça para mostrá-lo aos demais. Prado também defende: “Está na hora de haver uma nova reforma psiquiátrica no Brasil”.

Outra mudança na vida de Prado é que Estamira se tornou um relacionamento permanente. “Nos falamos duas, três vezes por semana. Eu a levo ao meu médico, pago uma mesada a ela. Vou fazer uma casinha para ela. Nós a adotamos”.

Sócio do cineasta José Padilha na produtora Zazen, Prado não era, porém, estranho ao cinema. Havia produzido os filmes Carvoeiros (2000), de Nigel Noble, e o premiado Ônibus 174 (2002), de Padilha. Seu próximo trabalho no cinema é outra produção: Tropa de Elite, ficção dirigida novamente por José Padilha, sobre rapazes que entram para o temido Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

by marcos prado

terça-feira, 1 de julho de 2008

A infância e o terror

Ainda somos primitivos, e sempre seremos?
O pacto de humanidade a cada dia se dilui como água que escorre parecendo afirmar que não há nada que nos ampare para arrefecermos o violento que somos.O capitalismo adentra a isto de forma invisível, mas adentra e a infância escorre sobre o consumo e a loucura do capital nos torna mais desumanos, a loucura sobre o homem é a mesma do homem para com a infância e a Mãe acusada de jogar bebê de prédio no PR passará por exame de sanidade mental Paulo a c v
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da Folha Online

A auxiliar de enfermagem Tatiane Damiane, 41, suspeita de jogar a filha de oito meses da janela do sexto andar de um prédio no centro de Curitiba (PR) no final da noite de segunda-feira (30), passará por exame de sanidade mental.

Depois de jogar a criança, a mãe ameaçava se jogar também, mas foi impedida por vizinhos que pediram para que ela saísse da janela. O corpo do bebê foi encontrado sobre um telhado de uma garagem do prédio. A menina caiu de uma altura de aproximadamente 20 metros. Vizinhos de Damiane tentaram agredi-la, mas foram impedidos.

Segundo o governo do Paraná, em depoimento à delegada Eunice Vieira Bonome, do Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes), a mãe confessou que jogou a filha da janela. Relatou que estava cansada de cuidar da criança e que não apresentava nenhum tipo de sentimento por ela. Damiane, segundo o governo do Paraná, só não se jogou por interferência dos vizinhos, que bateram na porta do apartamento e pediram para ela descer da janela.

A auxiliar de enfermagem relatou que tomava dois remédios, sendo um deles receitado por um psiquiatra. A Polícia Civil irá averiguar se de fato o medicamento foi prescrito por um profissional.

Damiane foi autuada em flagrante por homicídio doloso (com intenção de matar). A auxiliar de enfermagem foi encaminhada para o Centro de Triagem 1 e isolada das demais detentas. Somente após o exame de sanidade mental é que a Polícia Civil irá definir o destino dela.

mídia nada faz senaõ comer o consumo da loucura,

sexta-feira, 27 de junho de 2008

No dia 13 de Junho de 1888, pelas 15.20 da tarde, nasce em Lisboa, FernandoAntónio NogueiraPessoa, que foi um dos mais importantes Poetas e Autores da


No dia 13 de Junho de 1888, pelas 15.20 da tarde, nasce em Lisboa, FernandoAntónio NogueiraPessoa, que foi um dos mais importantes Poetas e Autores da Língua Portuguesa de Sempre.

120 anos após o seu nascimento, é altura de assinalar a efeméride.

Nuno Miguel Henriques, Diseur de Poesia, edita um CD intitulado"Minha Pátria é a Língua Portuguesa", com interpretação de textos do poeta e seus heterónimos.

Além deste CD com apresentações em todo o mundo lusófono, Nuno Miguel Henriques continua a apresentar no Mosteiro dos Jerónimos, junto do túmulo do poeta, um Recital de Poesia e em todo o país, divulgando de uma forma inovadora a lírica de Fernando Pessoa.

A Edição deste CD é limitada e todos os exemplares reservados directamente, são numerados e autenticados com selo branco do intérprete.

O valor de cada CD reservado até dia 13 de Junho, é de apenas nove euros, acrescido de dois euros para despesas de envio.

Caso pretenda reservar já o seu CD de "Minha Pátria é a Língua Portuguesa" poderá efectua-lo pelo email:

correio@nunomiguelhenriques.com
http://nunomiguelhenriques.com/

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vaga de Zélia Gattai na ABL tem recorde de inscrições

Vaga de Zélia Gattai na ABL tem recorde de inscrições
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CAIO JOBIM
da Folha de S.Paulo

A disputa pela cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras será acirrada. Vinte e três candidatos vão concorrer à vaga aberta após a morte de Zélia Gattai, em maio deste ano.

A cadeira pertenceu a Jorge Amado e Machado de Assis e tem José de Alencar como patrono.

Acadêmicos ouvidos pela Folha apontam cinco nomes como favoritos: Luiz Paulo Horta, Antonio Torres, Isabel Lustosa, Ziraldo e Fábio Lucas. A eleição está marcada para 21 de agosto.

Zélia Gattai morreu aos 91 anos, em 17 de maio deste ano, de parada cardiorrespiratória, no Hospital da Bahia, em Salvador. Suas cinzas foram depositadas no jardim da Casa do Rio Vermelho, onde também foram postas as cinzas de seu marido, o escritor Jorge Amado, morto em 2001.

by uol

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Tradição perde espaço para a modernidade no 'São João' de Campina Grande (PB)Ana



Segunda-feira, 23 de Junho de 2008
Ana


Sou de Campina Grande, nasci perto , muito perto do forródromo, antigo açude velho, perto da rua 13 de maio.No meu tempo havia fogueiras nas portas, o cheiro invadia as casas junto com cheiro de milho cozido, assado, pamonha canjica, pé de moleque, bolo de mandioca, baeta, e mais fogos como rojões, vulcões, peido de veia, estrelinhas, advinhações,milho assado na fogueira e um cheiro de madeira e polvora etc.Na cidade o grande são joão era na rua , nos bairros de jose pinheiro, catolé, palmeiras, volta do Zé leal. alto branco afora clube dos caçadores, clube médico, e festas em Queimadas-cidade vizinha-, nosso tempo era mais enxuto e menos capitalista, a não ser período em que meu pai faturava bem na sua PADARIA DAS NEVES, mas passou esse tempo, tempo meu de Braulio Tavares Jose Newman, de Rosil CavaLcante,(convidei a comadre sebastiana para dançar ) Marines, Lua Gonzaga , de Elba Ramalho e Vava, sua irmã.
PAulo a c vASCONCELOS
Luisa Bartholomeu
Enviada especial do UOL
Em Campina Grande (PB)
O 'maior São João do Mundo', como ficou conhecida a tradicional festa junina de Campina Grande, na Paraíba, ganha ares de modernidade a cada edição. No 26º ano de sua realização, o grande número de outdoors, camarotes e shows que fogem do 'menu' regional acabam descaracterizando um evento que se vende como manifestação cultural e religiosa, mas que caiu nas garras da indústria do entretenimento.


Campina Grande é a segunda maior cidade do Estado da Paraíba

Localização: 130 km da capital do Estado, João Pessoa

População: 371.060 habitantes

São João: Segundo a Embratur, 1,5 milhão de pessoas devem visitar a cidade neste mês de junho
O forró eletrônico é o estilo que mais toca nos alto-falantes. Pelas vielas do Parque do Povo (o coração da festa), espalham-se estandes de vendas de equipamentos eletrônicos e barracas promocionais de patrocinadores. No figurino dos freqüentadores, a ordem é esquecer o vestido xadrez e o chapéu de palha em casa. Meninas usam salto alto e fino, enquanto os garotos calçam tênis, jeans, camiseta e boné. A fogueira, símbolo maior das comemorações juninas, é grandiosa: tem 20 metros de altura. E seria mais se não fosse por um 'detalhe': é iluminada artificialmente.

Os números da festa impressionam, a começar pelo calendário, com um mês inteiro de comemorações. A infra-estrutura é de embasbacar: 44 mil metros quadrados do Parque do Povo, por onde se espalham 380 barracas, 400 atrações musicais e mais de 500 horas de forró para todos os gostos. Além deste reduto, que também abriga um grande palco, camarotes e várias palhoças (ilhas) de forró, outros 40 mil metros quadrados guardam o Centro de Cultura e Arte Marinês (localizado no parque Evaldo Cruz), sem contar o parque cenográfico 'Sítio de São João' e a Feira de Artesanatos, que completam o complexo preparado para receber os festejos juninos.

Entre os cerca de dois milhões de visitantes que visitam as instalações durante todo o mês, é possível encontrar desde moradores antigos da cidade até turistas que enfrentam mais de 10 horas de viagem para participar da festa, como é o caso da professora e comerciante cearense Madalena Lopes. "Formamos um grupo de 26 pessoas e montamos um pacote. No Ceará só se fala nesse 'São João' de Campina Grande. Vim para ver se é bom mesmo", conta.


Fogueira de 20 metros de altura
em Campina Grande é artificial
Seduzidos pela propaganda do regionalismo, gringos de passagem pelo Nordeste também começam a descobrir o 'São João'. Segundo Yara Santos, que arrumou um emprego temporário na festa, a presença de estrangeiros está aumentando a cada ano. "E eles vêm para gastar", diz.

Circulando pelo Parque do Povo, a sensação, sem dúvida, é a de estar em um grande evento, mas sem saber exatamente qual. Enquanto é possível encontrar toques de regionalismo na Vila Nova da Rainha (reprodução de como era Campina Grande antigamente) e na Tabladrilha (palco onde se apresentam quadrilhas dos 64 bairros da cidade), o turista pode saborear uma gastronomia que vai muito além da tipicamente junina. "Quando se pode encontrar yakisoba, pizza, hambúrguer e pastel num mesmo lugar, não é possível dizer que ele conserve sua essência", critica o missionário Gustavo Lucena.

"Nosso objetivo é atender todos os gostos. Aqui nós respeitamos a diversidade ideológica e cultural, mas a raiz é preservada", defende o coordenador de Cultura da cidade, Alexandre Tan.

Origens da festa
A festa de São João em Campina Grande começou a ser realizada no Parque do Povo em 1983, na gestão de Ronaldo Cunha Lima. Naquela época, a área útil da festa se limitava a um único pavilhão, onde se misturavam as tendas típicas, os shows bem mais regionais (xote, xaxado e forró pé de serra) e barracas de comidas típicas. A questão da religiosidade era também, de acordo com relatos de moradores, bem mais valorizada.


Nos estandes, marcas conhecidas e comida que vai de pizza a yakisoba
A partir de então, cada prefeito deixou sua contribuição para a ampliação da festa, segundo a assessoria de imprensa oficial da cidade. "O que houve com o festejo foi uma transformação natural, em decorrência da ampliação do espaço e do próprio progresso de Campina Grande. Se hoje somos o 'maior São João do mundo' é porque o turista gosta e prestigia a festa", explica Tan.

O custo do 'São João' é estimado em R$ 4,2 milhões, sendo R$ 3 milhões dos patrocinadores e R$ 1,2 milhão do governo municipal. Devido a um desentendimento político entre o governador do Estado da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), e o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo Neto (PMDB), a festa não recebe verba do governo estadual há três anos. Apenas a parte de segurança pública é feita pelo Estado, que cede efetivo das polícias Civil e Militar para manter a ordem durante o mês de junho.


No São João de Campina Grande, ruas têm nomes 'engraçadinhos'

Veja álbum de fotos
A 'nova cara' da festa divide opiniões. "É certo que o 'São João' ficou mais comercial nos últimos anos, mas não perde seu encanto. Acho que ela dá opções aos visitantes, pois aglomera muita coisa diferente. O que não dá para negar é que se tornou o principal evento da cidade, trazendo trabalho e renda para o povo", explica Amaral dos Santos, um massagista cearense que adotou Campina Grande como 'cidade do coração'.

O excesso de pessoas que prestigiam o evento muda a rotina de toda a cidade nesta época do ano. Segundo o taxista Márcio Silva, trajetos que levam normalmente cinco minutos, chegam a demorar uma hora para serem percorridos. "Ainda falta muito investimento na cidade. Mas é aquela história: quanto melhor fica, mais gente atrai. E aí o resto a gente já sabe como fica", afirma.

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"Campina Grande praticamente não tem vida noturna. Por isso, esse acaba sendo o grande evento da cidade. O movimento dobra em todos os estabelecimentos comerciais. Não dá para falar que isso é ruim", explica Lindimar Martins, sócio de um tradicional restaurante campinense.

"Na minha época de criança, festa de São João tinha balão no céu e fogueira na terra. Isso que está aí é algo sem cultura e sem identidade", resume o funcionário público Silvestre Maia.

O que é ser cidadão?

Há algo que me intriga em relação ao ser cidadão e, portanto, está no exercício da cidadania que se inscreve no ãmbito da alteridade- o outro-, o outro em relação a mim, ao meu contexto.Em que medida isso não se aplica a rua, ao trânsito, a calçada a fila, a vizinhança, ao amigo, ao parente ao colega de trabalho, ao amor etc
Como ser cidadão nas prática cotidianas tenho compaixão, nao no sentido cristão,mas no sentido do amor pelo que de próximo tem o outro, e é meu parceiro na formulação da vida.Como estar com outro enquanto parceiria cidadã?
Talvez este seja o grande impasse na construção das nossas histórias de vida diante da política e do capitalismo.Será que nao estamos omitindo o ser cidadão diante de interesses práticos nestes dois grandes campos que nos envolve e e se constitui o paradigma central de nossa vida em concorrência permanente e que nos faz omitir nossa dívida de ser cidadãos?
Precisamos pensar nisto, como princípio ético, diretor da civilização e da condição humana.
Paulo A c Vasconcelos

domingo, 22 de junho de 2008

Equívocos comuns sobre a imagem

Domingo, 22 de Junho de 2008 | Versão Impressa


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Equívocos comuns sobre a imagem
Reunião de oito textos de seminário com especialistas de diferentes áreas revela preconceitos sobre o pensar fotográfico

Simonetta Persichetti
Tamanho do texto? A A A A
A princípio todo livro que se propõe a discutir e a pensar fotografia é bem-vindo, diante da escassez desse tipo de publicação que temos no Brasil. Foi assim que o livro 8x Fotografia, organizado por Lorenzo Mammì e Lilia Moritz Schwarz, foi recebido. O livro é resultado de seminário realizado em setembro e novembro de 2004, no Centro Universitário Maria Antonia, quando seus autores convidados discutiram a fotografia nas mais variadas vertentes. Participaram professores de diversas áreas como sociólogos, fotógrafos, poetas, jornalistas, críticos de arte e antropólogos.

Um debate mais do que interessante, visto que a fotografia, desde sua invenção na metade do século 19, está infiltrada nas mais diferentes áreas do saber e se predispõe às mais diferentes interpretações. E é bom que assim seja. Mas o entusiasmo inicial termina nas primeiras páginas da leitura. Tirando o fato de uma linguagem acadêmica e pedante, fica desde logo evidente que a fotografia não é o centro das questões, mas fica em segundo plano, apenas como referência para outras dissertações e pensamentos que muitas vezes fogem da idéia inicial. Isso fica claro quando os editores optaram por não colocar imagens nos textos, mas deixá-las à parte no início do livro. Para saber do que eles estão falando fazemos um exercício de ir e vir.

Além disso, vários deles discorrem e falam de inúmeras outras fotografias que nem comparecem no livro. Ou seja, que não conhecem a fundo fotografia, não sabem do que eles estão falando. Fica um elenco de nomes e datas. Os autores dos primeiros ensaios, embora reiteradas vezes repitam não serem especialistas em fotografia nem entender do assunto, procuram de forma, muitas vezes até forçada, incluir a fotografia num discurso que há muito foi deixado para trás. Claro que não é necessário - nem importante - ser um historiador da fotografia para falar sobre ela, mas a partir do momento que se escolhem determinadas vertentes, um pouco do conhecimento do desenvolvimento da linguagem fotográfica não atrapalha, pelo contrário, só ajuda.

Isso se dá muitas vezes porque se acredita que um historiador ou crítico de arte é conhecedor o suficiente de representações de linguagem não verbal para discorrer sobre a representação fotográfica. Um equívoco bastante comum. A fotografia está mais para a narrativa literária do que para a representação pictórica. A professora de história de arte moderna e contemporânea Rosalind Krauss, já deixou isso muito bem explicado em seu livro O Fotográfico (Editora Gustavo Gili, 237 págs., 1990). A fotografia pertence a um campo cultural diferente da pintura (embora muitas vezes dialogue com ela e sem dúvida lhe é muita próxima) e, portanto, as perspectivas de percepção são diferentes por parte dos espectadores.

Rosalind Krauss parte do princípio que não é exato partir das noções de estética e estilo de história da arte para falar sobre fotografia. Que ela está mais próxima da idéia de acervo do que da idéia de museu. Ela defende a fotografia como um campo artístico específico. Ao seu lado, estudiosos como Roland Barthes ou Philippe Dubois, que se apóiam na semiótica, também defendem a decodificação da fotografia como a decodificação de um texto. Mas nada que impeça outros tipos de leitura e interpretação.

Pois bem, nos oito textos do livro - diga-se todos escritos por pessoas altamente gabaritas em suas respectivas áreas -, muitas vezes nos deparamos com preconceitos criados durante os mais de 200 anos da história da fotografia. Parece aos autores, não todos, incomodar o fato de não conseguir entender ou catalogar a fotografia dentro da história da linguagem autônoma. Ou uma vontade de incluí-la de forma forçada dentro da história da arte.

Outro autor especialista em fotografia, Alfredo de Paz, já dizia que ninguém é igual diante de uma fotografia, nem quem a faz, nem quem a olha. Isso permite as mais variadas recepções e a conclusão de que a fotografia não é uma linguagem universal e que, portanto, necessita de decodificação para ser compreendida.

Dos oito textos, cinco fogem da discussão do pensar fotográfico, procurando de toda maneira entender não o ato em si, mas correlacionar a fotografia às outras áreas, em especial as artes plásticas. Daí as comparações com colagens e surrealismo no texto de Alberto Tassinari ao falar de uma imagem de Cartier-Bresson, e erroneamente citá-lo como o grande representante do instantâneo esquecendo de outros antes dele que fizeram do átimo sua linguagem, como André Kèrtész. Ou o texto do ensaísta e poeta Antonio Cícero que foge completamente para uma pensata poética - muito interessante, mas que nada fala à fotografia, para a ela retornar no final e forma muito apertada encaixar a imagem de David Hockney em seu discurso. Ou ainda a leitura dos trabalhos de André Kertész pelo Rodrigo Naves, que de início já "determina" quais assuntos seriam mais apropriados ao registro fotográfico, ou seja, "o que se deixa caracterizar plenamente pela sua exterioridade..." Ou a ligação entre texto e imagem nos cartazes publicitários e grafites da cidade, inspirados por uma fotografia de Walker Evans, e que levou seu autor o jornalista Marcelo Coelho a dizer claramente que falará de outras coisas e mais tarde voltará para a fotografia. Ou o fascinante e interessante texto de Sylvia Caiubi Novaes, já conhecida e reconhecida na área de antropologia visual, mas que também nos traz a imagem como ilustração e quase incapaz de conseguir por si só trazer algumas informações ou comunicar algo que nos quer contar. O problema não está na imagem, mas na maneira como nós entendemos a fotografia. Como dito acima parece que ela é mera ilustração, mero suporte ao que se acredita ou quer provar. Conceito há muito superado.

Mas nos três seguintes, encontramos a fotografia protagonista, como no belo texto de Eugenio Bucci, que ao levar para discutir uma "singela" imagem familiar desbotada pelo tempo, coloca em discussão, não apenas a leitura imagética, mas percepção, de tempo, de sentimentos e a possibilidade narrativa da fotografia, não como fim ou morte de um momento, mas como a presença. A função de memória da fotografia que se transforma em eternos presentes e não simplesmente evoca o passado: "O valor informativo de uma fotografia está cada vez menos no que ela traz de sua suposta origem documental, histórica ou jornalística, e cada vez mais naquilo que lhe é exterior, o olhar que a tem como objeto e que a tomará como um elo para uma narrativa sentimental." Ou ainda: "O sujeito movido pelo desejo inconsciente é que fica encarregado de construir a narrativa - que só pode ser afetiva e psicologizada - das imagens que o cercam."

Imperdível o texto de José Souza Martins e da compreensão sociológica do papel da fotografia como vetor de discussão. Ao analisar uma imagem de Sebastião Salgado, na invasão de uma fazenda no Paraná, o autor nos dá uma bela aula de interpretação imagética, abrindo espaço para variadas possibilidades de leitura a partir da própria imagem ou da construção do discurso imagético. Assim como o texto de Cristiano Mascaro ao discorrer sobre o fotografar de Robert Frank, um olhar aparentemente solto, mas que foi responsável por criar uma estética própria: "Ao deixar de se posicionar diante dos acontecimentos como simples espectadores isolados dos fatos, como era comum então, para se tornar protagonistas da trama, invadindo o centro da cena e construindo imagens carregadas de subjetividade."

Uma bela idéia, um belo elenco de profissionais, fantástica possibilidade de discutir fotografia. Um resultado que deixa a desejar. Pena!
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