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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Ô, mais tá.... BAIANOSÁ, OUI, NÃO É SÓ ACARAJÉ


Paulo Vasconcelos


São Salvador-Ba tem estereótipos que não combinam; sim, ela tem cheiro de dendê, igrejas velhas, Farol da barra, baianas, fitas do Bomfim. Mas tem mais que isso: tem suor de trabalhador, com ou sem terno, no avionado das ruas. Faz-se festas, e também os congressos internacionais, encontros de managements do mundo, o turismo pesado e o capital se alvoroça nas ruas com a petroquímica agribusiness, produção de serviços e tecnologia. A Coca-Cola invade para se misturar com o abará e o beiju.

O Carnaval do turismo ajudou esse estereótipo, em conluio com a mídia televisiva e a cinematográfica. O Carnaval se dá em poucos bairros, o litoral urbano, e o olho bêbado não espia tudo. Pior: criou-se uma Indústria do Carnaval com o aval de artistas, indústrias, governo e mídia. Não há mais carnaval popular da Saborosa, de Dodô & Osmar, mortalha, hoje ele é uma réplica midiática modificada da festa carioca brodiuniana.

A Arquitetura Nova não conhecida (vide Caramelo, Isaias Neto) é estrelada pelas avenidas: A Antônio Carlos, claro, Paralela, T. Neves, edifícios imensos, comerciais e da burguesia, mais a classe média, varanda gourmet, um quarto; e espia-se por trás os bate laje, com favelas e favelas de vasta população, hoje, quarta maior cidade do Brasil. As esculturas ainda, mas há algo de Botero, será? Grandes CEOS vão às mães de Santos nos terreiros e são recebidos com cerimonial afro.

Os Magalhães, mais que Tomé de Souza, Garcia Dávila,Casa da Torre, insistem, mas parte do povo - a esquerda atenta. As universidades públicas têm excelência, as multinacionais engolem o aluno mais pobre que mistura-se aos ricos que não entraram nas públicas, mas estuda-se. O teatro, o cinema e a música esbanjam diferenças das caduquices do sudeste brasileiro, e tem público para muitas conchas acústicas. O axé canta coro com a mpb, com o rock, o blues, o jazz, o pop e as músicas dos terreiros.

Há um Lá ele, bacana! Ascende a Cosmópolis-mor do Brasil, com trânsito caótico, carros, roupas de cores, tecnologia de ponta, “Shopinguins” enormes, outros mini, e persistem a feira de São Joaquim, o Mercado Público do Rio Vermelho que não faz inveja ao sudeste.

O sal, as variedades brasílis, o ar marinho, cores naturais e espelhadas dos pórticos dos prédios performanceiam a megalópole, insiste a flor da noite-pipoca, as frutas e verduras em bancas, espalhadas pela cidade, bicicletas; os vendedores gritam antigos refrãos, do cuscuz; o wi-fi que se cruza pelos bares; o bom dia, boa tarde e noite são passaporte; e escuta-se Maria Bethânia, Caetano, Ivete, Mariene de Castro, Gil, Alexandre Leão, Ilê Ayê, Moreno, Brown, Saulo, C. Cunha, Jammil, Chiclete, Asa de Águia, Flavia Wenceslau, Silvano, La Fúria e vai e vai  e desce o sal pelas Avenida Sete , Chile, o bairro de  Águas Claras, Cajazeiras, Fazenda Grande 1 e 2. Imensa cidade, uma barra litorânea imensa, um metrô pequeno, um futebol de torcidas, carnaval como uma indústria e uma grande balança comercial. Grandiosa.

Bata tudo em ponto de Brasil e depare-se com um verde vasto, restaurantes das redes globais com drinques de aperol, rum, whisky, vinhos, cachaça, cerveja, chope. Mastiga-se carne de fumeiro, com farofa de banana da terra, caranguejo, afora churrasco, fatada, ufa! e os saguins, corujas, morcegos e outras faunas observam Tonha da cocada, os sorvetes de Gela goela e Gela bico. Na mesma batida, há os bairros: Brotas, Graça, Liberdade, Nazaré, Pelourinho, Cais dourado, São Joaquim, Campo Grande, Itaigara (com odor de classe média paulistana e de festas de cachorros na praça Ana Maria Magalhães, com bolo, balões e ossos para os cachorros da molesta imitando os americans paulistas).

A língua soteropolitana, aliás, acho estranho esta denominação, prefiro baianosá, tem imensas cores, e um toucinho peculiar com renda, gripi, vai do meu rei ao patrão, doutor, lá ele, apoi, meu, isso mesmo, meu e o tal do tomei, no lugar de levei (um susto, um gol), apaulistando-se.

O baianosá tem um campo lexical que o diversifica no nordeste, pela incorporação do falar dos estados vizinhos: mineirice e criolice dos hábitos de cariocas e paulistas, assim é uma gordura de qualidade linguística diferenciando-a. Apesar da força das midiotices, o povo come e arrota em suas peculiaridades, fazendo menos chué – a fala citadina em seu discurso.




Gregório, Castro Alves, Amado, Adonias, Ubaldo, Sosígenes seguem firmes, mas há novos e muitos que lambuzam com boa saliva a língua, e produzem uma literatura de fôlego que é a cara do Brasil, não é Lívia, Ari Sacramento, Flávio V. M. Costa? E ainda o Espinheira, Miriam Fraga (saudosa), Antonio Torres, Pereyr, Risério, Moniz Bandeira e haja! Que bom Baianosás!
AH! E baiano não engole ovo só, atira em fascistas!!!!!!!!

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